Volta ao Mundo por Pedro Guerra – Dias 64 a 67 – Alaska 🇺🇸🌎🌬

Pedro Guerra / Atualizado a

Dias 64 a 67- Alaska 🇺🇸🌎🌬

Volta ao Mundo por Pedro Guerra: Alaska

Volta ao mundo. Saltito entre países. Procuro contrastes. Experiências. Vivências. Saltito solitário. Uno pontos. Uns atrás dos outros. Começo por um lado. Acabo por outro. Uma esfera que uno. Memórias a cada ponto. Caras. Imagens. Cheiros. Sabores. Aprendizagem empírica. Saltito feliz. Absorvente. Despreocupado. Sem filtros. Sem alter-egos. Saltito porque gosto. Porque quero. Porque posso. Saltito porque sim. O sim chega. O sim é suficiente.

Saltito entre países. Memórias que ficam.

Hawaii. Estou no meio do Pacífico. De um lado a Ásia. Do outro a América. Observo o globo. Procuro emoções! Será possível elevar ainda mais a fasquia?! Pesquiso. Leio. Analiso. Pondero. Será possível?!

O que seria elevar a fasquia?

Fecho os olhos. Imagino.

Alaska! 🌬❄️🗻

Aterro em Anchorage. São 5 da manhã. Já há luz. O céu azul havaiano deu lugar a um cinza escuro. Chove. Faz frio. Sento-me num banco já no exterior do aeroporto. Coloco a mala à frente. Estico as pernas e apoio os pés. Permaneço. Há um silêncio melancólico. A melancolia desperta os sentidos. As gotas caem a compasso. Observo. Não tenho pressa. Vejo numa poça um mapa mundo. Vejo em cada gota um alfinete preto. Projecto. Elas caem afixando pontos. Uno-os mentalmente. De onde vim. Onde estou. Para onde vou.

Gotas que caem. Pontos que uno. Memórias que ficam.

Alaska

Entro no jipe. “É melhor ser um jipe.” Volante à esquerda. Condução pela direita. Tudo normal, portanto. Mãos no volante. Pneus no chão. Estradas largas. Americanas por sinal. Ainda não tenho plano, só intenções. Chego ao centro da cidade. Anchorage. Não é a capital do estado do Alaska, embora pareça. Estaciono o jipe, continuo a pé. Caminho ao sabor da intuição. Identifico traços. Idiossincrasias. As barbas fartas. O accent próprio. Os ursos como figura maior. A atitude despreocupada. Uma escala de beleza peculiar! A identidade própria, vincada pela distância e pelo isolamento geográfico. Vincada pelo clima extremo… “don’t let the weather hold you back – we don’t!” Assim são os Alaskans!

Continuo de olhos fechados. Imagino.

Alaska

Acordo cedo. Amanhece às 4am. Anoitece às 12am. 20 horas de luz solar! Deja vu, Islândia 🇮🇸😍 (lágrima no canto do olho). Sento-me no jipe. Só há duas formas de explorar o Alaska de carro. Rumar a sul em direcção a Seward. Rumar a norte em direcção a Denali. Simples, até porque não há mais estradas.

Rumo a sul!

Levo um sorriso nos lábios. O sol brilha. A minha playlist do Spotify dá espectáculo. Olho em volta e percebo rapidamente que fiz a escolha certa. Gosto do frio. Gosto de estradas sinuosas. Gosto de montanhas. Gosto do verde das montanhas. Gosto do branco nos cumes. Gosto de verde e branco! (As coisas que eu faço para justificar um parágrafo onde faço conjugar e sobressair o verde e branco)! Avanço rumo a sul. Os lagos envolvem o perímetro das montanhas. Não corre vento. São espelhos autênticos. Vejo a duplicar. Paisagens que valem por duas.

Sinto a minha imaginação a fervilhar.

Alaska

Chego a Seward 3 horas depois. A envolvente é contagiante. Há mar à vista! Seward é a porta marítima para o golf do Alaska. A água é cinza esverdeada. Baça, sem brilho. Típico de zonas glaciares. As margens erguem-se em altura. Pontiagudas. Cobertas de branco. Vejo navios atracados. Vejo um helicóptero no ar. Hum… helicóptero?

Imagino-me lá dentro. Levanto voo. Sobrevoo as montanhas. Perfuro as nuvens densas que se abraçam ao cume. Sinto a turbulência. Entro numa espécie de realidade paralela! A temperatura desce abruptamente. O branco apodera-se daquilo que vejo. Voo rasante contornando as formas geométricas da montanha. A minha cabeça tomba, ora para a esquerda, ora para a direita. Mais alto. Cada vez mais alto. Ao longe avisto pontos que contrastam com o branco brilhante da neve. Brilho que ofusca. Dúvida que persiste. O que será?! O helicóptero imobiliza-se no ar. Desce. Abro a porta. Olho em frente. Arregalo os olhos.

50 Huskies do Alaska! Dos mais novos aos mais velhos. Autênticos atletas. Nascem com a corrida no ADN. Gostam de correr. Precisam de correr.

Huskies do Alaska

A minha imaginação é fértil e não pára!

E se fosse explorar o cume da montanha puxado por 15 Huskies do Alaska?!

Histórias que imagino. Memórias que ficam.

Outro dia. Outra manhã. Outra madrugada. Ontem para sul. Hoje para norte. Direcção Denali. A montanha mais alta da América do norte! Imponente. Desafiante. Assustadora.

O sol brinda-me. Novamente! O verde e branco das montanhas também! Estou como quero portanto! Já vou a rolar na estrada para ligar os 200 km que separam Anchorage de Talkeetna. 2 horas, mais coisa menos coisa. Avanço em silêncio. Hoje sem música. Vidro aberto. Vento na cara. Brisas de memórias. São 66 dias duma volta ao mundo cujos adjectivos ao meu alcance começam a ser escassos para lhe fazer jus. Quero mais! Vou por mais e por entre memórias, recordações e lembranças chego ao destino. Talkeetna!

Alaska

Dou asas à minha imaginação. Deixo-a livre. Livre para voar. Voar? Dou por mim num avião. Vermelho. Bimotor. Estilo 007. Imagino-me de auscultadores na cabeça. Vou sentado no lugar do co-piloto. Voamos em direcção ao cume da montanha de Denali. Voamos a baixa altitude. Controlamos o posicionamento da rota pelos vidros das janelas. Como se fosse um carro. Vamos subindo colados à montanha. As asas inclinam-se em movimentos sem padrão. A montanha manda. O avião obedece. O objectivo é chegar ao summit. O ponto mais alto. Quanto mais subimos maior é a turbulência. A densidade das nuvens aumenta. Ares frios. Coração quente.

Sobrevoamos o topo! Não há mais alto na América do norte! Imponente! Assustador, mas paradoxalmente luminoso. Acima das nuvens. O sol reflecte na neve! No glaciar!

Glaciar?!

A minha imaginação… se eu não lhe ponho um travão!!!

E se?! Aterrássemos com o avião no glaciar no topo do Denali?!

Ainda bem que tirei fotos e fiz filmes! Não fossem os mais cépticos dizer que tinha imaginado ou sonhado!

Alaska

Idealizo, concretizo. É assim que funciono.

67 dias inacreditáveis! 21 países! Memorável! Não tenho deixado nada por fazer! Colecciono memórias! Escrevo histórias! Imortalizo palavras. Escrevo ao sabor da experiência! Finitude. Solidão. Limites. Medo. Coragem. Continuo nesse caminho… o caminho de sempre mas com 65 dias inigualáveis! Substancialmente mais pobre, mas paradoxalmente mais rico por coisas não tangíveis, não palpáveis.

Vou completar 70 dias e voltar para casa! Tenho 5 dias portanto! 5 dias para mais duas aventuras que escrevei em conjunto! Com elas terminarei esta terceira volta ao mundo! …mas esta, à semelhança das duas primeiras, já ninguém ma tira!!!🤘🌎

Alaska