Volta ao Mundo por Pedro Guerra – Dias 28 a 31 – Zimbabwe 🇿🇼 Zambia 🇿🇲 Parte I

Pedro Guerra / Atualizado a

#saltosquedou

Medo. Alguém dizia que “o medo a mim não me assiste”. Esse alguém mentiu. Descaradamente, diga-se. Eu tenho medos. Tu também. Ambos sabemos. Há três reacções padrão perante o medo. Paralisia. Fuga. Luta. Estão por ordem de prioridade na gestão cerebral da eficiência energética. Todas válidas. Todas necessárias. Está nos livros, não fui eu que inventei.

Coragem. Dou por mim a pensar como a coragem anda impreterivelmente de mãos dadas com o medo. A coragem faria sentido num mundo sem medos?! Pois. Não deixa de ser curioso que, quando identificamos coragem, estejamos provavelmente e simultaneamente a projectar medo. O próprio medo. Um “és corajoso porque…”, talvez seja invariavelmente um “eu teria medo de…” Estamos sempre mais expostos do que imaginamos. Desconstruo.

A coragem é subjectiva. O medo também.
O medo é contagioso. A coragem também.

Valha-nos isso.

África torna-nos mais corajosos. Menos medrosos. Mais resilientes. Menos dependentes. Mais imunes.

É em África que continuo. Cada dia mais corajoso.

Acordo às 6:00 da manhã. Não que tenha essa obrigação, na verdade. O meu transfer para Nairobi, capital do Kenya, é só às 8:30am. Acordo porque quero ver pela “última vez” o sol a nascer de frente para os 6000 metros do Kilimanjaro. Não tenho que fazer grande coisa, diga-se. A minha cabeça permanece enterrada entre duas almofadas. Mantenho os olhos abertos. Os pés movem-se espontaneamente para fora dos lençóis, como se tivessem vida própria e quisessem, também eles, ver o Kilimanjaro a acordar. As mãos estão entrelaçadas em cima da barriga. Os polegares tocam um no outro a compasso, como se estivessem a contar os segundos, tipo ponteiro de relógio. Aqui estou eu. Em silêncio. Serenamente. Afortunadamente, diria. Agradeço.

Amanheceres que vi. Memórias que ficam.

5 horas de jipe até Nairobi. Retrovisor novamente a funcionar como coleccionador de memórias. O Kilimanjaro afasta-se à medida que ganhamos quilómetros à estrada. Despeço-me. Cumplicemente. Voltarei como prometido para te cumprimentar no topo. Ao que parece não virei sozinho. Será só blá blá? Aguardemos.

Passo a tarde em Nairobi. O casal de holandeses que conheci no safari (lembram-se deles?) convidaram-me para almoçar e dar uma volta pela cidade. Incrível como se pode empatizar tão espontaneamente, com duas pessoas que têm filhos da minha idade.

Such a pleasure. Hope to see u guys again soon!

Já no hotel. Deixo pronta a roupa para o dia seguinte. Mala preparada, de madrugada é só fechar. Algumas horas de sono. O despertador toca às 4. Não dou hipótese à reincidência e já estou debaixo do chuveiro. Mais uma madrugada. Mais um checkin. Mais um voo. Dois países à minha espera!

Let’s go again!

Às vezes questiono-me de onde vem esta energia.

Hello Zimbabwe 🇿🇼! Hello Zâmbia 🇿🇲!

Continua…