Volta ao Mundo por Pedro Guerra – Dias 32 a 37 – Tailândia 🇹🇭 Laos 🇱🇦 Parte II

Pedro Guerra / Atualizado a

Parte II

Adeus Bangkok.

Entro no táxi. Trago aquele sabor agridoce na boca. Vou o caminho para o aeroporto num diálogo interno. Os meus diálogos internos confrontam sempre duas espécies de entidades. África deixou um lastro difícil de igualar… “Estas viagens não se compadecem com momentos de nostalgia”, fala o Guerra para o Pedro.

Where’s next?!

Lembro me de estar no sofá da sala. Lembro me de às tantas dizer: “hoje vais fechar a rota do sudeste asiático”. Foi nessa noite, depois de muito ler, que apostei em Laos 🇱🇦 !

Gosto quando o tempo me dá razão!

Aterro em Laos ao fim da tarde. Aeroporto pequeno. Escolhi Luang Prabang para ser a minha base nos próximos 4 dias. Não é a capital, mas é o destino que normalmente desperta maiores paixões. Vou de tuk-tuk para hotel. Faço o caminho em 10 minutos. Gosto quando 10m bastam para me entusiasmar.

Acordo cedo. Na cabeça já vive um plano para o dia. Pequeno almoço reforçado. Alugo uma mota! “Só há vermelhas?!” “Ai a minha sinaaa!!” Compro um SIM Card antes de arrancar. “Vou precisar de ter net sempre”, perspectivo. Faço-me à estrada. O google maps diz que são 32km. Avanço por entre vales verdejantes. Passo pontes entre margens. Paro para abraçar as crianças das povoações que me acenam energeticamente. Sorrisos fáceis. Sorrisos genuínos. Vou abrandando sempre que o meu olhar deteta algo que devo imortalizar em fotografia. Parei muitas vezes, se é que me faço entender. 1h depois chego ao destino: Kuang Si Falls.

Estaciono a mota. Sigo a pé. Sorridente, diga-se. Há uma sonoridade de fundo. Há uma humidade penetrante. Há um verde vivo que envolve. Brilhante. Reluzente. À medida que avanço na trilha, a sonoridade emancipa-se. Ganha vitalidade. Há um aroma no ar. Inspiro. Expiro. Vejo a cor da água. Abro e vejo os olhos, como se estivesse a desembaciar a visão. Não é azul, não é verde. Não interessa a cor, é lindo. Vou conhecendo os vários socalcos. Subindo. Mergulho aqui. Mergulho ali. A água vem de cima. Traz pouca pressão…a suficiente. Não é uma prova de força, é uma demonstração de subtileza. À medida que subo o desnível entre socalcos aumenta. Socalco a socalco até ao socalco final.

Maravilhoso.

Mergulhos que dei. Cataratas de memórias.

Dias que passam. Respiro tranquilidade. Tudo é bonito. Organizado. Limpo. Bem cuidado. Conto os turistas pelas mãos. Há o casal de namorados, dos 20 aos 80, que veio apimentar o romance da relação. Há os jovens de traços hippie que encontram em Laos a conexão espiritual que procuram. Há conversas que nascem espontaneamente ao virar da esquina. Curiosidades. Interesses. Aprendizagens. …e há também o monte Phousi!

Ando de mota serpenteando ruas ladeadas por bancas de comércio artesanal. Paro para comprar um gelado. Vejo um grupo de três pessoas a olhar para cima. Dou por mim a focar o topo. O que será? Vi o trio a iniciar a subida. “Why not?!” Pensei, enquanto comia à dentada um gelado que era suposto ser saboreado ao linguado. Início a subida dos mais de 355 degraus. Subo em zig-zag. Pelo meio encontro estátuas e adorações a Buddha. Continuo a subida. Ofegante. À medida que vou chegando ao topo vou sentido a energia de um local realmente especial. Último degrau! Wow!! Permaneço em silêncio enquanto vou percorrendo os vários cantos. Observo. Uma inquietude sedenta por mais. Mais ângulos de visão daquilo que me envolve. A norte uma cordilheira de vales verdejantes. A sul uma réplica. No meio Luang Prabang, banhada pelo rio Mekong. Ali permaneço até o sol se esconder por completo. Único. Talvez o melhor pôr-do-sol da minha vida. Aqui me despeço até ao próximo destino.

Sol que se esconde. Memórias que ficam.

Está aberta a etapa asiática desta terceira volta ao mundo. No sudeste asiático permanecerei por mais dois países. A rota continua a ganhar vida e a linha da trajectória alonga-se agora na horizontal. Vamos por mais, vamos com tudo… porque amanhã, bom amanhã, pode ser tarde demais.

Ps: os próximos dois países fazem ambos fronteira com Laos e fronteira entre si. De um lado um país que tem a sua história vincada num conflito entre o norte e o sul. Do outro, um país que tem como referencia ter nas suas terras o maior monumento religioso do mundo.

Até breve. Algures por aí.