Volta ao Mundo por Pedro Guerra – Dias 48 a 55 – Mongólia 🇲🇳 🌎

Pedro Guerra / Atualizado a

#minimalismo

Minimalismo. Viver com o mínimo. O indispensável. Viver com pouco. O necessário. O necessário às necessidades. Redefinidas. Reprogramadas. Viver o presente. Aqui. Agora. Viver livre. Materialmente livre. Viver feliz. Emocionalmente feliz. Viver o tempo. Coisa rara. Quanto tempo passa sem ser vivido? Viver nómada. Aqui, onde o pasto floresce. Ali, onde a água corre. Acolá, onde o vale abriga. Viver. O pouco é relativo. O muito também.

Lições de vida. Memórias que ficam.

Mongólia

Estou na Coreia do Sul. Seoul. Tenho o portátil ligado. O browser está carregado de janelas abertas. Aglomeram-se. Sites, mapas, blogs, crónicas várias que me ajudam a impulsionar esta terceira volta ao mundo. Passo a mão pela barba num gesto subconsciente. Preocupado. O voo para a Mongólia que andava a acompanhar desapareceu do mapa. Há mais de 24 horas que não aparece em nenhuma plataforma. Olho para o relógio. Faltam 16 horas para o suposto take-off. Penso em alternativas. Não há. Ou melhor, até há: confiar na sorte.

Quando me dizem que sou um homem com sorte, esboço sempre um sorriso “virgem”. Sim, virgem, fia-te nela e não corras.

Com sorte sento-me no avião. Aperto o cinto. Fecho os olhos. Reduzir os estímulos visuais ajuda-me a pensar. Faço um ponto de situação mental. Demasiado fácil desta vez, concluo num misto de adrenalina e ansiedade. Vou aterrar em Ulaanbaator, capital da Mongólia, sem nada marcado. Sem plano. Sem transfer. Sem reservas. Sem hotel. Nada, zero! Zero, mas com visto, sim, o tal que me deu muito trabalho conseguir.

Mongólia

Vamos por partes.

Há 4 formas de pensar uma aventura na Mongólia.

  1. Não ir. Demasiado óbvia.
  2. Ir. Reservar o hotel mais fancy em Ulaanbaator e fazer tours diários num mini bus com ar condicionado. Demasiado turístico.
  3. Ir. Marcar numa agência um tour de carro com motorista e correr o país, pernoitando nos ger camps dos national parks, com restaurante e duche de água quente. Demasiado confortável.
  4. Ir. Arranjar um carro e/ou motorista e correr o país sem destino, pedindo abrigo às famílias nómadas, em troca de trabalho ou algum dinheiro. Viver como eles. Demasiado entusiasmante!

4 níveis. Todos válidos. Uma escolha.

Bora lá!

Mongólia

5pm. Pés no chão. Olá Mongólia. Ulaanbaator. Mochila às costas. Mala puxada pela mão esquerda. iPhone na direita. Pesquiso por alojamento para a primeira noite. Vou dormir na cidade. Defino o filtro: do mais barato para o mais caro. 6.35 USD. Seis dólares e trinta e cinco cêntimos, por extenso. Reservo sem perder grande tempo a olhar para as fotos. É este o meu espírito para esta aventura. Entro no quarto. Uma camarata com 8 camas. Há um papel A4 afixado com observações. “Não há água quente”. Foi a que me saltou mais à vista. Sorrio, enquanto escolho o meu beliche. “Isto ao pé do que aí vem é tipo hotel de 5 estrelas”, murmuro.

Saio para dar uma volta na cidade. Caminho enquanto o sol segue a sua rota descendente. Vejo a estátua de Genghis Khan. Primeira vénia. Caminho enquanto os meus neurônios se desmultiplicam em sinapses, numa busca incessante por um plano para conseguir por em marcha esta aventura. Vejo a estátua de Marco Polo. Segunda vénia. Caminho até escurecer. A fome aperta. Entro num restaurante. Peço um prato por intuição. Entre garfadas meto conversa com o jovem empregado. A conversa flui. Empaticamente. Partilho o meu objectivo, enquanto vou interpretando a sua linguagem não verbal de perplexidade. Depois de 5m de monólogo, eis que ele abre a boca, naquele que terá sido o momento chave desta aventura.

Mongólia

“Aquilo que tu queres não é fácil de conseguir… vais precisar de um carro, um motorista, mas mais do que isso de um guia / tradutor, que saiba onde estão as famílias nómadas e que consiga que elas te abriguem.”

Estou compenetrado a ouvi-lo, esboçando apenas interjeições de acompanhamento…

“Eu tenho um colega de universidade, que fala inglês e que está de férias… o pai dele foi guia na Mongólia durante muitos anos.”

Começo a ver a luz. A minha perna direita abana freneticamente debaixo da mesa, sem que eu a consiga refrear.

“Vou ligar para ele e ver o que conseguimos fazer para te ajudar.”

Saio do restaurante jantado e com um plano em marcha. Paro na primeira esquina para comprar um SIM card. Ligo para o jovem. Estudante universitário de finanças, que está de férias e cujo o pai foi guia na Mongólia. Ouço o que ele tem para me dizer. Afinamos detalhes. Negociamos preços. Definimos a partida: “amanhã às 7am estaremos aí, eu e o motorista que ainda vou arranjar.”

Chego ao hostel adrenalizado. Tento projectar e visualizar o que me espera. Árdua tarefa! Defino prioridades ao sabor da sensibilidade empírica. Questiono retoricamente. Terei água? Electricidade? Cobertores? Casa de banho? Rede no iPhone? 6 questões. Releio-as agora. Acabei de rir à gargalhada… mas já lá iremos. Decido deixar a mala no hostel. Preparo apenas a mochila para levar. Meto o power bank e o iPhone a carregar. Defino o alarme. 6:15am.

Adormeço.

Continua.

Mongólia