Volta ao Mundo por Pedro Guerra – Dias 48 a 55 – Mongólia 🇲🇳 🌎 – Parte II

Pedro Guerra / Atualizado a

Parte II

Acordo.

São 6:50 da manhã. Estou pronto. Aguardo num pequeno hall que tem uma janela com vista para a rua. Vejo um carro chegar. Vem com duas pessoas lá dentro. A porta do carro abre-se. Pedro? Ouço o meu nome verbalizado timidamente. Olhamo-nos mutuamente. Vejo uma cara de miúdo. Uns 19/20 anos. Marcas normais da puberdade. Olhos rasgados. Cabelo preto rapado. 1.70m de altura. Calções azuis. Botas de trekking. Unhas bem cortadas. Sorriso introvertido, mas confiável. Apertamos a mão direita enquanto lhe passo a esquerda pela cabeça em jeito de quebra gelo.

Entramos os três para uma sala de estar do hostel. O motorista traz um mapa grande. Estendemo-lo sobre a mesa. Partilho as minhas ideias. Sou traduzido. O motorista começa a passar a caneta sobre o mapa, como se tentasse esboçar uma rota. Partilhamos a análise. Medimos distâncias. Ponderamos horas de viagem e combustível necessário. Definimos os locais onde previsivelmente vamos encontrar mais famílias nómadas para pernoitar. Estamos prontos e eu… cheio de pica!!

6 dias que passaram…

Olho para trás. Memórias incontáveis. Centenas de kms. Lembro-me das estradas despovoadas e das retas infinitas. Das montanhas de Gorkhi Terelj ao deserto de Gobi. Relembro as três famílias nómadas que me acolheram. Guardo imagens das caras farruscas, das expressões tímidas e curiosas, das mãos calejadas, da roupa encardida e dos dentes marcados pelo tempo. Revivo os dias compridos. Madrugadas geladas. Tardes quentes. Sem água. Sem electricidade. Sem casa de banho, chuveiro e afins. Engulo em seco quando relembro a carne que saía de um buraco no chão, uma espécie de frigorífico do ger, embrulhada em plástico… e de pensar “se eles comem, tu também comes.” Ainda consigo sentir o entusiasmo das tardes a passear de cavalo por entre montanhas rochosas e vales verdejantes. E o que dizer dos vibrantes sunsets de camelo no deserto de gobi? Cocktail sensorial!

Ainda sinto o cheiro do leite nas mãos, das madrugadas que passei a ordenhar as vacas. Recordo o entardecer a recolher as centenas de cabras. As brincadeiras com as crianças quando o calor dava tréguas, do futebol às escondidas, só por gestos. A forma como me saltavam para cima, sorridentes, como me mexiam no cabelo, como corriam para me acordar antes do sol raiar. Ainda ouço a azáfama dos jantares em família e das histórias da dinastia de Genghis Khan e do outrora poderoso império mongol. Ainda tenho na boca o travo do vodka russo, que rodava entre todos numa tigela de barro, e à qual não podia dizer que não… verdade, aconteceu! E os banhos… que não tomei! Não consigo conter o riso quando me lembro de ter pensado, “tas com as pernas muito morenas!” Um moreno que se diluiu quando viu água e sabão passados 4 dias.

São memórias infinitas que o tempo se encarregará de lhes dar ainda mais significado.

Vivi como um nómada. Memórias que ficam.

A experiência da Mongólia foi extraordinária, mas deixou as suas marcas! Sinto-me a precisar de um banho revitalizador! Revejo o meu plano inicial. Concluo que deixou de fazer sentido. Alguns momentos de ponderação e uma decisão rápida e intuitiva! Aquilo que aí vem vai manter viva a minha energia nestes

já quase 60 dias de viagem!!

Preparados para uma espécie de déjà vu?

Ps: na segunda volta ao mundo pensei incluir o meu próximo destino, na altura optei pela Nova Zelândia. Embora não estivesse no meu plano inicial desta terceira volta, quis o destino que acabássemos por nos encontrar. Olho para ela como um espécie de Islândia da Oceânia! Vai ser mágico, acreditem!

São quase 60 dias e 19 países! 😅🤘💪🌏

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