Ilhas Faroe – O segredo mais bem guardado da Europa – Parte I

Pedro Guerra / Atualizado a
ilhas faroé

“E se fosse passar uns dias a explorar sozinho as Ilhas Faroé?!”, perguntei retoricamente.

“Ilhas quê?!”, questionaram-me perplexamente, enquanto franziam a testa e levantavam a sobrancelha direita.

Sorrio de soslaio.

Às vezes tomo decisões com base em “pequenos nadas”. Gatilhos emocionais. Emoções que se propagam, que me vinculam. Fecho os olhos. Busco informação. Visualizo cenários. Pormenorizo mentalmente o que me espera. Antecipo. Emolduro retratos imaginários. Imaginação fértil.

Assim se escolhe o nonagésimo terceiro país a visitar.

Descolo em Lisboa. Aterro em Copenhaga, Dinamarca. Escala de quatro horas. Vagueio pelo aeroporto. Janto. Faço a digestão a caminhar pelos corredores. Sento-me novamente. Leio. O tempo passa marcado a compasso pelas posições que vou assumindo na cadeira. O painel da porta de embarque acende-se. Finalmente. Regozijo-me. Destino Vagar, Faroe Islands. Está na hora.

Ilhas Faroé. Um arquipélago com 18 ilhas. Geograficamente no oceano atlântico norte, entre a Grã-Bretanha, a Islândia e a Noruega. Pertencem à Dinamarca, mas têm ampla autonomia. 48 mil habitantes, mais coisa menos coisa. Há quem diga serem o segredo mais bem guardado da Europa. Veremos.

Unspoiled, Unexplored, Unbelievable. Assim se apresentam ao mundo.

ilhas faroé

Aterro no aeroporto em Vagar. O vento assobia. Perdão, o vento grita. Desço as escadas do avião. O alcatrão da pista contrasta com o branco das bermas. Sim, estão -2 graus e está a nevar. Subo o fecho do blusão. Meto o gorro. Percorremos a pé os 20 metros que nos separam da porta. Escrevi no plural, muito embora eu fosse o único turista a bordo.

“Portugal? São poucos os turistas que vêm para cá nesta altura do ano!” Dizem-me ironicamente enquanto validam o meu passaporte.

“Foi exatamente por isso que vim!” Retorqui mantendo a ironia.

Ligo-me ao wi-fi do aeroporto. Confirmo a distância a que estou do hotel que reservei para passar a primeira noite. 600 metros? “Vou a pé”, afirmo por entre os dentes, sem estar certo de que será a melhor opção. Pés na rua. Vento gelado na cara. A pouca certeza que tinha começa a esfumar-se e ainda nem comecei. “Não és homem de virar as costas a um desafio, certo?!”, murmuro retoricamente. Na mão esquerda levo o Iphone com o mapa carregado. A direita puxa o trolley. Avanço. A frase “se o arrependimento matasse” nunca me fez tanto sentido. Caminho contra o vento. Muito vento! É como se puxasse uma mala de 100kg. Vou ganhando metros à rota. Lentamente. Caminho solitário. Não vejo carros, muito menos pessoas. Há um silêncio inquietante. As nuvens aceleram puxadas pelo vento. Vejo-as em contraste com a luz da lua. O vento sopra. A neve cai na diagonal. Há um vazio no ar. Reconfortante, paradoxalmente. O ar é gélido. Áspero. Inóspito. Cru. Cheira a puro. Uma pureza cristalina. Intocada.

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“Foram os 600 metros mais demorados da minha vida”, reflito sorrindo, enquanto empurro, finalmente, a porta de entrada do hotel.

Encosto a cabeça na almofada. Olho para o relógio. Passaram 12 horas depois de ter descolado de Lisboa, concluo. Tento adormecer. A expectativa adrenaliza-me. Tento adormecer. Os meus olhos fecham-se enquanto os meus pensamentos se multiplicam sinapticamente. Projeto. Imagino. Energizo. Deixo-me ir.

Dias curtos. Noites longas. Nuvens escuras. Montanhas claras. Cumes pontiagudos. Estradas planas. Caminhos solitários. Pensamentos múltiplos. Ventos ensurdecedores. Nevoeiros silenciosos. Neve gelada. Edredão quente. Túneis. Luz. Luz ao fundo.

Adormeço.

To be continued… Ler a segunda parte do artigo.

Gostaria de experienciar uma aventura semelhante?

Voos: Lisboa – Copenhaga (Dinamarca) – Vagar (Ilhas Faroe) – Lisboa