Volta ao Mundo por Pedro Guerra – Dias 4, 5 e 6 – Islândia 🇮🇸 Parte I

Pedro Guerra / Atualizado a

#conduzindo 🚗

Estou no comboio. Rumo ao aeroporto. Copenhaga ficou para trás e com ela o início desta terceira volta ao mundo. Terceira. Repito para me ouvir novamente. Ter-cei-ra! Interiorizo. Regozijo-me!

Encosto a cabeça na janela. Respiro fundo. Lá fora já escureceu. Vejo-me em contraluz no vidro. Reflicto. De onde venho, para onde vou… e pensar que ainda agora comecei.

Aterro em Reykjavik na Islândia. Oh Islândia!

No passado, vários foram os planos que fiz para te visitar. Infrutíferos. Inconsequentes. Lamentei sempre, mas finalmente percebo que algo melhor estaria guardado para nós e agora, que aconteceu, quero eternizar a memória dos momentos que passámos juntos. Quero poder revivê-los no futuro. Quero que perdurem. Mereces. Por te isso escrevo, Islândia.

Perdoem-me o parágrafo anterior, mas é o que nos acontece quando nos apaixonamos.

Ritmo apressado. Mochila às costas. Puxo a mala com a mão esquerda. Ligo-me ao Wi-Fi do aeroporto com a mão direita. São 00:45. O aeroporto dista sensivelmente 80km da capital, Reykjavik. Não tenho plano, literalmente. “Às vezes confio demasiado na minha capacidade de improviso”, murmuro, enquanto comprimo e enrugo os músculos da testa. Comparo opções. Vou alugar um carro. Olho em volta e só vejo três agências de rent-a-car no interior do aeroporto. Desconfio. Vou à primeira: já não tem carros. Vou à segunda. Enquanto me preparam uma cotação, verifico em simultâneo uma app de rent-a-car no iPhone. Recebo a proposta. Analiso. Sorrio de soslaio enquanto abano a cabeça. Despeço-me com um educado “have a good night”.

A 1 km do aeroporto há mais 5 agências. Há um shuttle gratuito. Há uma poupança de 200 euros à minha espera. Há um sorriso na minha cara como quem diz, “são muitos anos, muitas viagens, muitas…” Menos Pedro, menos. Pés fora do aeroporto. Brrrr!! Frio cortante. Aperto o casaco. Subo o capuz. Encosto-me a um poste à espera do shuttle. Olho para o céu. Já passa da uma da manhã e ainda há luz. Sinto o corpo adrenalizado. Três dias que vão valer por seis… let’s go!

Adormeço. Acordo 3 horas depois. Não tenho tempo a perder. Entro no carro. 7 da manhã. Ponho o banco do carro a aquecer para combater a temperatura. O céu está escuro. A estrada molhada. Chove. O limpa pára-brisas move-se ao ritmo das “pancadas de chuva” e por entre os seus movimentos repetitivos vou avistando uma imensidão de montanhas. O branco predomina nos cumes. O céu é uma mescla de vários tons de cinza. Escuro. Claro. O azul vai aparecendo sorrateiramente e salpicando a pintura. Os raios de sol esgueiram-se aproveitando o espaço que sobra, como quem se quer afirmar, acrescentando o brilho que faltava à tela. Simples. Mágico!

Vou ganhando quilómetros ao mapa. Avanço. Alterno entre a playlist do Spotify e o ruído delicioso da janela aberta. A brisa gelada na cara. O cabelo ao vento. Pareço um puto de 10 anos a querer parar em todo o lado. Vejo uma montanha verdejante, quero parar e fotografar. Vejo um pasto com cavalos selvagens, quero parar. Vejo um cume coberto de neve, teimosamente abraçado por uma neblina monocromática, quero parar! Vejo um vulcão, quero parar! Quero parar e paro! É por isso que viajo sozinho, para fazer o que me apetece, quando me apetece, mesmo que o motivo seja só porque sim!

Vou olhando para o relógio, fazendo contas de cabeça. O plano do dia é ambicioso, quero percorrer todo o sudoeste da Islândia e se possível chegar até Vik! O meu diálogo interno é acompanhado por um franzir de sobrancelha, uma micro-expressão que Paul Ekman facilmente explicaria. Suspiro em seguida. Estou na Islândia e há 20h de luz solar!

Quilómetros que passam. Imagens que ficam.

Avisto ao longe uma enorme queda de água. “Será que já cheguei a Seljalandsfoss?” O tempo esfuma-se quando estás a gostar! Paro o carro. Saio apressado. Olho em volta. Brutal! Uma imensidão de água cai continuamente do topo de uma montanha. Admiro-a de todos os ângulos. Tiro fotos. Olho para cima. É o ângulo que me falta…”ainda é alto”… não resisti. Subi! Subi continuamente por mais de 30 minutos. Pé ante pé vou escolhendo os apoios mais seguros. Metro a metro, passo a passo. Mais um pouco. Está quase! Wow!

As fotos contam o resto.

Continua…