Volta ao Mundo por Pedro Guerra – Dias 12 a 15 – Polónia, Varsóvia 🇵🇱 Hungria, Budapeste 🇭🇺

Pedro Guerra / Atualizado a

#passosquedou🚶

Polónia, Varsóvia 🇵🇱
Hungria, Budapeste 🇭🇺

Inspiro. Apoio a testa na mão enquanto aperto suavemente as fontes. Polegar na da esquerda. Indicador na direita. Estou sentado na sala de embarque do aeroporto de Vilnius, Lituânia. Meto os fones. Escolho a música apropriada. Bon Iver. Abstraio-me. Ganho imunidade à azáfama que me rodeia. Expiro.

Viajar na Europa de Leste, de forma sequencial e com rotações rápidas entre países, traz inerente um desafio motivacional, energético se preferirem: às tantas parece tudo igual.

Encontro vários paralelismos entre a vida quotidiana e uma volta ao mundo. Por melhor que seja a realidade, ela tende a perder valor à medida que se perpetua no tempo. À medida que se torna previsível. Expectável. Não há grande volta a dar. É uma premissa da condição humana.

Os que se resignam tendem a viver sem chama. Os que não se resignam tendem a viver numa espiral de insatisfação permanente. Estou claramente no segundo grupo. Estranha condição humana esta. Concluo.

Sento-me no avião. Lugar 19 A. Está uma senhora ao meu lado. Deve ter uns 50 anos. Bem parecida. Relógio Gucci. Casaco Prada. Óculos de ver ao perto. Um livro na mão. Tem o separador a meio, já leu bastante. Abro o Mac. A imagem de fundo é a rota desta terceira volta ao mundo. “Isso é um sonho ou a realidade?”, pergunta-me em francês. É suíça. “Realidade”, respondo em inglês. Arregala os olhos, enquanto reposiciona os óculos, franzindo ligeiramente o nariz, como se tentasse melhorar a nitidez e escalpelizar os países da rota. “Admirável nova geração que não vive de fronteiras”, comenta, enquanto se reconforta na cadeira e apoia o queixo sobre a palma da mão. “É a terceira”, acrescento em tom galvanizado e orgulhoso, enquanto abro a imagem do globo com as três rotas simbolizadas por linhas de cores diferentes. “O que aconteceu na tua vida para te fazer começar esta grande aventura?”, pergunta com estupefação, enrugando a testa e levantando ligeiramente a sobrancelha, como se estivesse à procura de um “life’s turning point”.

Suspiro, enquanto decido mentalmente se quero mesmo “entrar por ali”, ou se prefiro compensar as horas de sono que tenho em falta.

Dissertámos intercaladamente durante 2 horas. Previsível. Horas de sono que continuam em atraso. Acumuladas. Paciência.

É engraçado como 90% das pessoas com quem partilho a trilogia de voltas ao mundo assumem como premissa um acontecimento prévio e impulsionador. Um trigger. Uma combustão. Talvez isso seja paradigmático. Quiçá passemos demasiado tempo à espera que algo aconteça para efectivarmos o primeiro passo. Seja ele qual for. Para o que for. Como se precisássemos de um motivo que justifique ou até autorize, a vontade de vivermos em verdadeira consonância com aquilo que sentimos. Que queremos e precisamos de fazer.

“Se estiveres à espera que todas as luzes fiquem verdes, nunca darás o primeiro passo.” Li algures no passado. Recordo.

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