Volta ao Mundo por Pedro Guerra – Dias 7 a 11 Finlândia 🇫🇮, Estónia 🇪🇪 Parte I

Pedro Guerra / Atualizado a

#cachodeuvas 🍇

Ando há 11 dias sozinho pelo mundo. Penso muito. Falo pouco. Quase não falo na verdade. Conversas circunstanciais em hotéis e restaurantes. Pouco, muito pouco. Não deixa de ser paradoxal que profissionalmente me paguem para falar e que pessoalmente eu pague para estar em silêncio. Reflicto. Desconstruo.

Vilnius. Lituânia.

11 dias e 6 países. 11 dias que parecem mais, muito mais. A percepção do tempo dilui-se a cada takeoff, a cada fronteira, a cada km de estrada. As memórias, essas, aglomeram-se tipo cachos de uvas…e quando a vinha é boa, comes uma, comes outra, e o cacho parece não ter fim. Uma vinha de memórias, diria.

Estou acima das nuvens. Literalmente acima. Sem metáfora. O avião da Iceland Air leva-me rumo a Helsínquia, Finlândia.

Helsínquia. Finlândia.

A minha testa encosta no vidro. Os meus olhos começam a fechar. Enquanto não fecham totalmente vão seguindo os contornos das nuvens espessas que me envolvem. Na ambiguidade das formas vou esculpindo memórias, tipo pranchas de Rorschach.

A Islândia foi uma daquelas paixões arrebatadoras. Confesso. Daquelas que te fazem ficar acordado mais horas do que devias. Daquelas que minimizam o cansaço. Daquelas que te deixam saudades. Assumo.

Ainda há pouco relia a crónica que escrevi e achei curioso ter sido, de todas as que escrevi nas três voltas ao mundo, a que vos fez assumir o “gosto” mais vezes. 201 vezes para ser mais preciso. Quando disser à Islândia que ela superou, entre outras celebridades, a Patagônia do Chile, a Muralha da China, o Taj Mahal, o Grand Canyon, a Nova Zelândia e até o Machu Picchu, vou seguramente arrancar-lhe um sorriso, mesmo que daqueles genuinamente envergonhados, como só ela sabe fazer.

Memórias em cachos. Uvas que como.

Aterro no aeroporto de Helsínquia. Sinto os olhos pesados. Tenho os níveis de energia no limiar da reserva. As 20 horas de luz solar islandesas têm um efeito semelhante à de um jet lag por fuso horário. Avanço meio sonâmbulo. De comboio chego à central station, já no centro da cidade. O goggle maps diz me que são 1,8km até ao hotel. Decido ir a pé. Mochila às costa. Puxo a mala por passeios de calçada redonda e irregular. Arrependo-me 100 metros depois. Abrando o ritmo, impreterivelmente. Olho em volta. Sinto a cidade. As cores, ou falta delas. A luz, ou falta dela. O sol, ou falta dele. Sorrisos, ou falta deles.

Helsínquia. Finlândia.

Esqueço por momentos o objectivo de chegar rapidamente ao hotel. Sento-me num banco de jardim. Estico as pernas e apoio os pés em cima da mala. Encosto-me. Observo. Questiono. Três verbos de seguida e uma pergunta no ar: “O que te faz afinal gostar de uma cidade?”

Passei 24 horas em Helsínquia e ainda estou à procura das respostas…

Paro para reler o último parágrafo.

Talvez esteja a ser um pouco injusto contigo, Helsínquia, mas nas viagens tal como na vida, quem vem depois de uma grande paixão nunca tem tarefa fácil.

Tallinn. Estónia.

Mochila às costas e mala novamente com as rodas no chão. Desta vez chamo um Uber…”já tive a minha dose de calçada finlandesa”. Vou navegar rumo a Tallinn, Estónia. Chego ao terminal. Novo, moderno. Entro no barco, estilo cruzeiro. Vários pisos. Wi-Fi a bordo. Lojas. Restaurantes. Escolho num. Sento-me à janela. Janto. Está escuro lá fora. Só distingo o rasto da espuma branca do barco. 2 horas a navegar e Tallinn à vista.

Tallinn. Estónia.

Já conhece Helsínquia?

Continua.