Crónicas de Viagens – Costa Rica por Sweety Govindji
PURA VIDA
Este é o lema da Costa Rica. E que bem que se enquadra neste país onde a simplicidade, a descontração e a ligação com a natureza fazem parte do estilo de vida dos seus habitantes. Não é de surpreender que a Costa Rica tenha sido nomeada um dos países mais felizes do mundo.
4 de Fevereiro de 2019. Quando aterrei em São José, senti que ia ser uma viagem inesquecível, afinal tratava-se da minha primeira aventura a solo.
Não fazia intenções de visitar a capital e por isso reservei um hotel perto do aeroporto. O motorista do hotel, que aguardava por mim na zona das chegadas, fez questão de me dar as boas vindas e durante o caminho fiquei a saber que era brasileiro e já vivia na Costa Rica há muitos anos. Uma boa conversa para o início desta jornada.
No dia seguinte, acordei bem cedo e depois de um pequeno-almoço revitalizante, segui em direção a Arenal.
Arenal é um daqueles lugares místicos. Há qualquer coisa no ar naquela pequena vila verdejante com o vulcão como postal de entrada.
Cheguei ao meu hostel e a recepcionista sugeriu-me logo várias opções de tours para a minha estadia de dois dias. Garantiu-me que não havia perigo nenhum em fazê-lo sozinha pois estava no país mais pacífico da América Central.
Decidi que nessa tarde ia visitar a Cascata La Fortuna. Quando cheguei à entrada, ouvi uma língua familiar. Sim, eram vozes portuguesas! Acabei por me infiltrar no grupo e fizemos a descida juntos. À medida que nos íamos aproximando da cascata, conseguíamos ver e ouvir o poder daquela maravilha da natureza. Não resisti ao mergulho. Estava ansiosa por me meter debaixo daquela água naquele cenário paradisíaco.
Outro ex-líbris da zona são as Arenal Hanging Bridges. O passeio pelo meio da floresta e pelas pontes suspensas é bastante agradável. Uma paisagem de tirar o fôlego! Ainda tive a sorte (ou não) de avistar uma pequena cobra por entre as árvores e chamei a atenção das pessoas que por lá andavam para observarem esse animal tão…arrepiante.
Não podia sair de Arenal sem experimentar uma das magníficas termas. Escolhi a Baldi Hot Springs e foi nessa tarde, enquanto transitava de piscina em piscina, que me consciencializei da minha sorte. Sorte de estar naquele país incrível, rodeada de uma beleza natural contagiante.
Chegara o momento de partir rumo ao oceano. Pela primeira vez na minha vida, ia conhecer o Pacífico…
Optei por ficar num surfcamp em Tamarindo. O objetivo agora era aprender a surfar. Na Costa Rica, pegar numa prancha e entrar no mar é a coisa mais banal do mundo e rapidamente me apercebi disso.
Reconheço que estava um pouco nervosa, porque agora a dinâmica era diferente: dormitório, casa de banho e cozinha partilhada, etc ,etc. Ao início, as dúvidas pairavam, mas há que ter uma mente aberta neste tipo de viagens e confesso que me safei bastante bem neste estilo de backpacker.
O hostel já tinha um plano delineado que incluía aulas de surf, passeios de barco, surf trips e claro muito convívio e boas energias.
Logo no primeiro dia, tive uma aula de surf durante a tarde. O professor encaminhou-nos para o local e olhei à minha volta. Conseguia sentir as boas vibes do surf à minha volta. Estava no sítio certo! Éramos quatro alunos e o professor explicou-nos algumas técnicas antes de entrarmos no mar. Com a sua ajuda, consegui prontamente apanhar a primeira onda e foi assim durante a hora e meia seguinte, até que as minhas forças começaram a diminuir e rendi-me ao descanso na areia, mesmo a tempo de assistir ao meu primeiro pôr do sol no Pacífico. Magnífico!
Enquanto regressava ao hostel, fui trocando algumas ideias com os rapazes da aula e combinámos encontrar-nos para um copo. Dois espanhóis e um argentino, os três a viajarem sozinhos. Comprámos umas cervejas na mercearia e ficámos no terraço do hostel à conversa. Pela primeira vez na viagem, sentia-me totalmente leve, sem qualquer pensamento de solidão e feliz por estar a conhecer pessoas tão especiais, com percursos de vida diferentes e que o universo quisera que naquele momento estivéssemos ali juntos a partilhar um pouco de cada um de nós e das nossas histórias. A conversa foi-se esticando pela noite dentro e acabámos por ir dar um pezinho de dança nos bares da praia.
No dia seguinte, tínhamos uma surf trip agendada até à Playa Avellanas. Esta praia é lindíssima e com um areal extenso. As ondas eram um pouco maiores mas consegui apanhar algumas. Terminada a aula, ainda tivemos o privilégio de assistir ao pôr do sol. Durante esta viagem, conheci mais uma rapariga, a Josie do Canadá.
Entretanto, chegara o momento de me despedir dos meus companheiros Eid, Xavi e Ricardo. Estava um pouco nostálgica. Parecia que os conhecia há muito tempo e que tínhamos vivido tanta coisa quando só se tinham passado dois dias. Mas estes momentos também fazem parte das viagens, principalmente de viagens a solo. Life goes on…
Combinei um passeio de barco com a Josie, pelas praias da redondeza. O comandante do barco fez questão de passar uma bossa nova durante a viagem que condizia perfeitamente com o cenário relaxante.
As manhãs seguintes começaram bem cedo com aulas de surf às 8h. Quando voltava tinha sempre um pequeno almoço à minha espera: pinto gallo ou burrito, fruta e sumo de laranja natural.
Durante a tarde, aproveitava para ir à praia. Num dos dias, fui caminhando até a um local mais sossegado. Decidi dar um mergulho, longe das pessoas, e só depois me apercebi porque ninguém ali estava. Havia um sinal que indicava “PERIGO CROCODILOS”. Vá lá, safei-me e não me cruzei com nenhum.
Visitei também a Playa Grande que fica mesmo ao lado de Tamarindo, mas para chegar lá é necessário atravessar de barco. São muitos os pescadores que têm o seu barquinho e fazem o trajeto várias vezes ao dia. Cobram um dollar. A Playa Grande é selvagem e quase virgem. É pura natureza, é pura vida…
Reparei num homem já nos seus 60 anos que caminhava também pela praia. Perguntei-lhe se podia tirar uma foto minha e acabámos por conversar um pouco. Fiquei a saber que era austríaco e tinha ido visitar a irmã que morava nessa praia há mais de 20 anos (tinha-se rendido ao país).
No último dia, juntei-me a duas colegas e fomos explorar a Playa Conchal. Ao contrário das anteriores, esta praia é conhecida pelas suas águas calmas e transparentes. Um paraíso! Era o meu último dia e aproveitei para dar muitos mergulhos e até fiz uma massagem na praia. Tinha de ser uma despedida em grande!
Não podia ter escolhido melhor destino para fazer a minha primeira viagem a solo. A Costa Rica é um país rico em paisagem natural e repleto de pessoas com boas energias. Existe sintonia entre as duas coisas – a natureza e o ser humano. E esta foi a magia que a viagem me trouxe – o apreço pela natureza, pela vida, pela vida dos outros, pelo facto das histórias dos outros me tocarem o coração por mais simples que sejam. Por dar mais valor a pequenas coisas e por outras pequenas coisas já não me chatearem tanto. Por estar mais grata pela vida!
PURA VIDA!
Texto e imagens: Sweety Govindji
(Vencedora da edição de maio)