Crónicas de Viagens – Marraquexe por Vanessa Ferreira
Chegámos a Marraquexe no dia 28/09/2019, sem grandes atrasos, o voo de Lisboa-Marraquexe é de 01h15 e existem voos todos os dias. O aeroporto é novo e apenas podem entrar quem tem bilhete de avião, pelo que tivemos que sair do edifício para encontrar o nosso transfer.
No caminho até ao nosso Riad (Riad Ambre et Épices) numa grande avenida (Avenue Guemassa) que liga o aeroporto à Medina, não deixámos de reparar na quantidade de trânsito, principalmente de motas, que a toda a velocidade circulavam com três ou mais pessoas em cima, e também com mercadorias, que ficámos com dúvida como estas se conseguiam equilibrar.
O carro que nos transportou, não pode entrar na Medina, onde apenas se circula a pé, de mota ou de burro, deixaram-mos na Bab (porta) Doukala, e o empregado do hotel veio-nos buscar.
O bairro do nosso Riad chama-se Dar Elbach, é uma zona mais residencial e tinha segurança à porta, é labiríntico, mas facilmente depois de duas vezes a fazê-lo, decorámos o caminho.
O nosso Riad é um pequeno oásis, no meio das ruelas apertadas, a porta é muito baixa e estreita (com quase todas em Marraquexe), mas depois entra-se num pátio maravilhoso com uma pequena piscina entre colunas e lá em cima um terraço onde eram servidos os pequenos almoços.
Saímos para explorar, e o nosso primeiro destino: Le Jardim Secret, tal como no hotel, à porta parece que estamos a entrar num espaço muito pequeno, mas que depois se revela à medida que avançamos, com uma arquitetura muito bonita, com muitas fontes, chão em mosaicos e as portas em madeira muito trabalhada, fizemos uma pausa para beber um café e apreciar a vista. De seguida fomos pelos Souks (mercados) em direção à praça principal, Jemma Al-fna, à medida que íamos nos aproximando da praça as ruas ficavam ainda mais delgadas e começámos a ser abordados pelos comerciantes para visitarmos as suas lojas.
A praça Jemma Al-fna é cheia de vida, há encantadores de cobras, há macacos vestidos, como o Abu (macaco do Aladino da Disney), há aguadeiros com os seus trajes e chapéus que os caracteriza, há turistas, há locais, há carruagem puxadas a cavalos. Ficámos a observar todo este aparato num terraço de o Le Grand Balcon du Café Glacier.
Fomos jantar ao restaurante Le Jardim, o espaço é muito agradável e a comida também, comemos dois pratos tipicamente marroquinos: Cuscus vegetariano e Tagine de cordeiro.
No dia seguinte saímos bem cedo, para não apanhar muita gente, com destino ao Jardim Majorelle, que fica na parte nova da cidade. O jardim é maravilhoso só apetece fotografar em todos aqueles recantos, como cor predominante temos o azul alentejano, que em Marraquexe lhe chamam azul majorelle. Dentro do jardim ainda existe o Museu Berbere, ou seja o povo que habita no norte de africa, nómada principalmente de Marrocos e Argélia, onde estão expostos os trajes antigos e utensílios. Mesmo ao lado fica o Museu de Yves Saint Laurent, que se apaixonou por Marraquexe, e aqui se estabelecia paras criar as suas coleções de alta costura e foi um dos responsáveis pela reconstrução do jardim de majorelle, que se encontrava ao abandono. Após a sua morte as suas cinzas foram espalhadas naquele jardim. Voltando ao museu, pode-se observar algumas das suas peças mais icónicas.
À tarde passámos pela Torre da Koutubia (a maior mesquita de Marraquexe) para fazer umas fotos no exterior, está interdita à entrada a não muçulmanos, pelo que não se pode visitar. A torre, devido à sua altura (69 metros), era um bom ponto de referência quando nos perdíamos na Medina. Reparámos também que, na avenida que vai dar a torre, existem balanças para as pessoas se pesarem em troca de 1 Dirham (equivalente a um 0,10 cêntimos), mas não percebemos o motivo.
Fomos jantar ao restaurante Le Café des Épices, que é maravilhoso (repetimos duas vezes na nossa estadia), o staff é muito simpático e a vista do terraço é maravilhosa, vê-se a Mesquita Koutubia e à frente as montanhas do Altas com neve, e para nós, foi onde comemos a melhor Tagine de cordeiro e onde vimos um por do sol fantástico.
No terceiro dia, foi dia de visitar os palácios, primeiro fomos ao Palácio Bahia, pagamos 70 dirhams (equivalente a 7€ aproximadamente), o palácio está um bocadinho em mau estado, mas tem ainda muitas salas que estão intactas, para além disso tem um pátio interior enorme. De seguida fomos à zona de Mellak (bairro judeu), onde se encontra os souks específicos de especiarias, o cheiro no ar é intenso e as especiarias estão milimetricamente arrumadas em forma de pirâmides, amarelas, vermelhas e terracota.
Comprámos chá berbere, que depois de provarmos achamos mais aromático que o típico chá de menta, compramos ainda uma mistura de várias especiarias, muito utilizada nos pratos típicos, Ras el hanout, que incluí: cominhos, gengibre, açafrão, canela, pimenta branca, pimenta do reino, pimenta caiena, pimenta Jamaica e cravinho.
A tarde foi passada no Palácio El Baldi, (onde pagámos também 70 dirhams) construído pelo Sultão Ahmed al-Mansour, para comemorar a vitória contra os portugueses na batalha de Alcácer-Quibir, onde desapareceu também o Rei D. Sebastião. O palácio está em ruínas, tendo sido saqueado por outro Sultão, porque pretendia fazer um outro palácio, noutro local e queria que seu palácio fosse ainda mais imponente que o El Baldi (que significa incomparável).
À noite fomos jantar ao Café el bakchich (bakchich,significa gorjeta), fica perto da praça Jemma Al-fna, foi muito bom e barato, pagamos pelos dois, 113 dihirams (equivalente aproximadamente a 11,30€), e o curioso é que o restaurante na parede tem um quadro com do famoso elétrico 28, Lisboeta.
No último dia saímos de manhã sem destino, fomos explorar o bairro onde ficava o nosso Riad, é uma zona mais residencial sendo que os souks, são mais dedicados à alimentação, aqui compram-se galinhas vivas e matam-nas e são depenadas, na hora, um pouco constrangedor para quem é mais sensível. Almoçámos no mercado, espetadas de vaca e frango com pão tradicional, a conta ficou apenas em 27 dirhams (aproximadamente 2,70€), acabámos por oferecer 50 dirhams (aproximadamente 5€).
À tarde tinha marcado no Heritage Spa, que fica também no bairro do nosso Riad, para experimentar um Hammam (banho turco), basicamente, consiste numa lavagem do corpo com black soup e esfoliação. O resultado foi uma pele super suave e macia.
Em termos gerais, Marraquexe é um explosão de cor e cheiros, é percorrer os labirínticos souks, perdermo-nos e voltarmo-nos a encontrar, é regatear o melhor preço para comprar o artesanato colorido, é a contemplação no alto dos terraços do pôr do sol laranja e as montanhas do altas cheias de neve, é o caos e calma ao mesmo tempo, quando voltamos ao Riad, ou relaxamos num dos muitos Hammam que a cidade tem, é os altifalantes que soam 5 vezes ao dia, para iniciar as orações diárias do mundo islão e a cidade fica, por breves instantes, em pausa do seu reboliço constante.
Texto e imagens: Vanessa Ferreira
(Vencedora da edição de junho)